Hoje estive a pensar.
A pensar em tudo…
…A pensar em nada.
Dei por mim a divagar para ti, tu que foste o meu porto de abrigo durante a tempestade.
Relembro o que fomos (uma vez mais). Como tenho saudades de ter braços onde me enrolar, de ter lábios onde me perder, de ter mão a me prender.
E penso no que somos agora, nada mais que duas ilhas perdidas, separadas por um mar sombrio e profundo.
Tentámos mutuamente ignorar a existência um do outro mas, por vezes, ainda consigo distinguir o teu olhar através da neblina espessa. E nesse teu olhar, que julgava esquecido na minha mente, reconheço a dor e a solidão que antes te caracterizavam. Eu vejo esse teu sofrimento, é quase tangível cada vez que os nossos corpos passam juntos um do outro, por obra do acaso, nos corredores e nas salas dos locais que ainda partilhamos. E essa dor invade-me. Incapacita-me quase tanto como a ti. Tolda-me os pensamentos, faz-me querer estar lá para ti, faz-me ter vontade de te ouvir, de saber o que se passa, de te ajudar.
Mas como ilhas perdidas que somos, afastámo-nos tanto que já não sabemos de onde viemos ou como viemos aqui ter. Eu, pelo menos, não sei o caminho de volta…
Talvez devesse falar contigo sem pensar nas consequências. Perguntar-te simplesmente para onde te fugiu o sorriso.
Inconscientemente, imagino a resposta e penso no que podes pensar de mim.
E tenho medo.
Tenho um medo inexplicável.
Neste momento, ainda vivo na ilusão de que poderemos vir a ser amigos. Se esgotar esta possibilidade fico com nada.
Mas…
Ver-te sofrer sem nada fazer deixa-me sem ar.
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E fico encalhada.